De Aljubarrota à Restauração
–
Música Medieval e Renascentista em Portugal
Tendo como marcos balizadores dois momentos históricos fundamentais para a definição da identidade portuguesa, este programa é uma viagem pela música que se ouvia em Portugal desde o final da Idade Média ao apogeu do Renascimento.
Depois de uma breve invocação do passado já distante com uma das Cantigas de Santa Maria, composta (ou recolhida) por Afonso X de Leão e Castela “o Sábio”, recordamos a Batalha de Aljubarrota com um olhar sobre os soldados portugueses, ingleses, castelhanos e franceses que se preparam para a luta, talvez trauteando uma melodia familiar. Dos cancioneiros do século XV vem-nos a música que se ouvia na corte, tanto nos salões como na Igreja; os quatro pequenos vilancetes do cancioneiro de Elvas, em português, são delicados exemplos da poesia e música desta época.
Nenhuma visão sobre a nossa cultura renascentista pode ignorar Gil Vicente, um dos mestres pioneiros da arte dramática europeia; a música era uma presença fundamental da sua dramaturgia e está aqui representada em três exemplos diversos. O motete de Escobar, que o terminava, deu o Nome ao “Auto da Cananeia” e tornou-se uma peça célebre, motivo de glosas e transcrições; a divertida “Quem tem farelos?” provém da peça com o mesmo nome e relata a desesperada história de um escudeiro arruinado, enquanto que num tom mais solene se relata em “Ninha era la infanta” (das “Cortes de Júpiter”) a história de D. Beatriz, filha de D. Manuel I, que parte para casar com o Duque de Sabóia.
Do Novo Mundo, sinal das trocas culturais que se intensificam com os Descobrimentos, temos uma peça em estilo musical europeu mas cujo texto é um louvor mariano em língua Quechua.
Nas escolas musicais de Coimbra e Évora, representadas por D. Pedro de Cristo e pelo mestre Manoel Mendes, inicia-se a ascensão ao cume da música renascentista entre nós; esta não será interrompida, nem com a “catástrofe” de Alcácer-Quibir aqui relatada no Romance de D. Sebastião, que levará a sessenta anos de domínio castelhano. Ironicamente, é durante a dinastia dos Filipes que se atinge o auge da música da renascença portuguesa com Lobo, Magalhães e Cardoso, nomes maiores da Escola de Évora (todos discípulos de Manoel Mendes). Estes compositores irão, ao longo das suas vidas, conciliar o respeito ao monarca castelhano reinante com a admiração (e até amizade) a João, Duque de Bragança, que virá a ser proclamado Rei em 1640. É dele, D. João IV, melómano e músico, a última peça deste concerto.
Programa
O Passado
Santa Maria, ‘strela do dia – Afonso X, o Sábio
A Batalha de Aljubarrota
Credo dos Jerónimos de Évora – Anónimo
Beata Progenies – L. Power
Mariam Matrem – Anónimo (Llibre Vermell de Montserrat)
Ma fin est mon commencement – G. Machaut
A época dos cancioneiros – Música Palaciana e Sacra
Do Cancioneiro de Elvas:
- Porque me não vês Joana
- Cuydados meus tão cuidados
- Já não podeis ser contentes
- Se do mal que me quereis
Benedicamus Domino – Anónimo (Canc. Bib. Nacional Lisboa)
A música em Gil Vicente
Clamabat Autem Mulier Channanea – P. Escobar
Quem tem farelos? – Anónimo
Ninha era la infanta – Anónimo
Um Novo Mundo
Hanacpachap Cussicuinin – Anónimo (J. Perez de Bocanegra)
Intervalo
O auge da Polifonia I
O Magnum Mysterium – D. Pedro de Cristo
Aleluia – M. Mendes
D. Sebastião e a batalha de Alcácer-Quibir
Puestos estan frente a frente – Anónimo
O auge da Polifonia II
Pater Peccavi – D. Lobo
Credo – da Missa “Dilectus Meus” – F. Magalhães
Nos Autem Gloriari – M. Cardoso
A Restauração
Crux Fidelis – D.Pedro IV